terça-feira, 26 de agosto de 2008

Histórias de Viagem - Praia dos Naufragados.

Resumo: Fui passar três dias numa praia deserta, correndo num rio torci o pé tão forte que ficou torto, tive que recoloca-lo no lugar, a dor era tanta que ao pular num pé só a vibração do pé produzia algo difícil de agüentar, para locomoção usava uma mistura de me arrastar de barriga e pular num pé. A noite fui para uma casa abandonada dormir, a preocupação por nem poder me defender se necessário e a dor de um pé que ao menor movimento parecia que me faria desmaiar me levou a uma só conclusão, feche os olhos e durma profundamente, porque era a única coisa que poderia fazer naquela noite.

Tinha trabalhado num restaurante para juntar dinheiro, por isso fiquei vários dias sem ter que procurar um lugar para dormir, mas não agüentava mais, larguei esse emprego de garçom e parti para uma praia quase deserta. Se chama Naufragados, fica na ilha em Florianópolis, e é a praia mais ao sul que tem, a segunda mais bela e natural. Digo quase deserta porque para chegar nela há uma trilha sobre uma pequena montanha que leva uma hora e meia (fiz em menos de uma) ou por barco, que me salvou no final, e é uma volta muito bonita que fiz ao pôr-do-sol. Mas voltando ao inicio tinha ido passar três dias sozinho, levei uma barraca, um saco de dormir, duas bermudas, três camisetas, um chinelo, uma caneca, escova de dentes, fio dental (sou muito chato em relação aos dentes) faca, corda, 20 reais e meu malabares dentro de uma mochila, nada mais, sem cueca, shampoo, potetor solar, documentos, carteira, nada. Tinha saio as 8 da manha da casa do meu primo e antes do meu dia estava chegando na praia indo pela trilha, havia somente umas 3 ou 4 casas de artesões e pescadores, chegando no final da trilha abria-se um amplo gramado, a direita um camping com algumas barracas e uma casa de madeira, a esquerda em cima de uma pequeno morro uma casa abandonada, uma construção com uma arquitetura bem antiga, amarela, antes de chegar na areia os dois restaurantes do local, na frente deles uma escada de concreto que dava na areia, cem metros a esquerda uma morro onde inicia uma longa trilha para a praia do Saquinho, leva umas 4 horas, iria faze-la depois de passar esse dias descansando na praia, a direita 500 metros de areia branca e batida, no final um pequeno caminho sobre pedras que leva a um farol, no meio da praia um rio de águas quentes e calmas. Caminhei pela praia e encontrei uma uruguaia brincado de cambalhotas, parei observei um pouco e perguntei se ela queria trocar, ela fazia malabares e eu tentava uns pulos e voltas, ela sorrio e aceitou. Chamava-se Clara e estava com dois amigos, Batwist um francês que estava a seis meses no país e João, paulistano que mora na Av. Paulista, mas adora surfar. Tinham se conhecido uns dias antes e estavam todos dormindo na casa que João havia alugado para passar as férias em Floripa. Quando a encontrei eles estavam surfando, pouco depois voltaram e sentamos nas sombras que grandes pedras faziam no final da praia. Pouco depois saímos eu e Batwist para caminhar no rio, descobrimos que entrando um pouco existe um banho de lama natural, o cheiro de vegetação apodrecendo junto com a terra negra dá um cheiro de podre estranho, mas natural e puro. Continua.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Seja humano para poder entendê-lo!

Ao pensar quem é o ser humano, uma múltipla variedade de informações passa a construir essa imagem. Podemos referenciar a biologia e os fatores orgânicos, o corpo e funcionamento dos órgãos, a evolução de espécies que originou-nos; a antropologia e a mítica figura do homem que ao longo dos anos fica ereto, distanciando-se dos animais, abrindo novas possibilidades de compreensão. A criação da cultura e vida social, toda construção humana que vai além do individuo, o que ficou nessa caminha de gerações?

Uma perspectiva histórica, social, e mítica, preposições que nos levam a subjetividade, a metafísica. A admiração orgástica que sentimos por poder pensar, imaginar, sonhar, e logo desejar. Que para um psicólogo parece a mais admirável faceta humana, tanto que decidi estudá-la. Mas acreditar que é “isso” que nos torna humanos, e ressalto que “isso” é uma construção genérica, porém que dá a maior e melhor interpretação possível para algo que não consigo descrever de modo pleno, já que dessa forma apelo ao humano para compreender o humano.

Então, temos uma definição metafísica do ser humano sobre a qual podemos refletir. Inicio com a máxima budista, e de alguns psicólogos também, “a vida é sofrimento”, pois desejamos o que não podemos ter, aquilo que temos não desejamos mais. Será que essa é a linguagem da vida que entendemos? Incompletude, parcialidade e sofrimento? É a única forma que temos para definir o que somos e entender o que construímos?

Por quanto permaneço sem uma resposta que satisfaça minha curiosidade, porém lanço meu olhar sobre o pouco que conhecemos de humanidade que existe em nós. Acredito fundamentalmente que estamos em movimento, e devemos direcionarmo-nos para a harmonia, ou em termos acadêmicos para a saúde. O ser humano tem uma história que dá sentido a sua vida, desenvolve-se dentro de um processo maior que não escolheu, e onde primeiramente depende por completo dele. Por isso faz-se necessário tempo e investimento para capacitá-lo a intervir propositalmente em seu ambiente, aqui podemos construir enlaces com a sociologia e psicologia social, mas pelo menos por enquanto voltamos ao foco anterior, o ser humano.

Podemos procurar entendê-lo de diversas formas, porém ao intervir, ou ao criar uma filosofia pessoal, deveríamos pensar como se pode ser melhor, mais útil, feliz, saudável. Enfim, acredito que o sofrimento é o que transparece no primeiro olhar sobre a história do homem, mas ao pensar sobre como deve ter sido difícil darmos conta de que existimos, nascemos sozinho e morremos dias depois, não é de estranhar que soframos por isso. Ao procurar responder essa questão acabamos por olhar para o céu em busca de conforto, criamos deuses, mas descobrimos a matemática, olhamos a lua por tanto tempo que um dia lá fomos, vivemos o empirismo e a razão, o espírito e a matéria, e criamos algo maior que nosso sofrer. Nascemos humanos e temos a chance de nos tornarmos sujeitos humanos. Caio num mundo que não escolhi, mas tenho como modificá-lo e contribuir para parecer com aquilo que imagino. Somos aquilo que nos propomos ser. Acima de tudo movimento. CAOS.